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VICARIUS FILII DEI: SUA ORIGEM E USO NA IASD

VICARIUS FILII DEI: SUA ORIGEM E USO NA IASD
COMO INTERPRETAÇÃO DE APOCALIPSE 13:181
Luiz Gustavo S. Assis

Resumo: Nesse artigo faço uma busca histórica da origem e do uso da expressão
vicarius Filii Dei como interpretação de Apocalipse 13:18 nos círculos adventistas. Após
esse background histórico, discorrerei brevemente sobre o uso desse título no meio
adventista, bem como sobre da validade hermenêutica do mesmo para a interpretação
do número 666.
A interpretação mais popular no meio adventista para o número 666, citado em
Apocalipse 13:18, é a utilização do suposto título papal vicarius Filii Dei. Entre as
muitas questões a serem levantadas a partir desse assunto, o que nos interessa nesse
artigo é a confiabilidade histórica dessa expressão e a validade de seu uso nos círculos
adventistas.

1. ORIGEM DO TÍTULO
O documento Doação de Constantino é a mais antiga referência do suposto título
papal vicarius Filii Dei. Tendo sido escrito no período da Idade Média, esse é o mais
antigo relato eclesiástico que confere a Pedro a autoridade de ser “substituto do Filho
de Deus”2. Por quase 600 anos, o catolicismo o considerou como genuíno, mesmo
porque aproximadamente dez papas o utilizaram como prova de sua autoridade
temporal3. A menção do nome Constantino sugere que esse documento deve ter sido
escrito nos dias desse imperador, no século 4 A.D. Porém, Lorenzo Valla, por algum
tempo secretário do papa humanista Nicolau V, em 1440 escreveu uma crítica literária
e histórica demonstrando que a Doação de Constatino era um documento forjado, que
provavelmente foi composto em meados do século 9 A.D.4.

2. VICARIUS FILII DEI EM AUTORES PROTESTANTES
O escritor protestante mais antigo a relacionar o a expressão vicarius Filii Dei ao
número 666 foi o alemão Andreas Helwig (ca. 1572-1643). Esse erudito foi professor
de línguas bíblicas e letras clássicas por quase três décadas. Em 1612, Helwig escreveu
sua obra Antichristus Romanus, na qual reuniu 15 títulos nas línguas latina, grega e
hebraica, que na soma de suas letras, dariam a cifra apocalíptica. Tal obra não
enfatizou o título vicarius Filii Dei, mas o considerou apenas como mais uma das
pretensões da Igreja de Roma.
Segundo Helwig, quatro fatores eram essenciais para um nome ser aplicado ao
número apocalíptico: (1) a soma deveria dar a cifra correta; (2) teria que concordar
com a ordem papal; (3) deveria ser um nome do próprio anticristo, não um título dado
por seus inimigos; (4) teria que ser um título usado pelo o anticristo para a sua auto-
ostentação. Porém, essa interpretação se tornou comum entre autores de diversas
denominações em meados da Revolução Francesa (1789-1799), quase duzentos anos
após a publicação de sua obra5. Autores protestantes como Amzi Armstrong (1771-
1827)6, os presbiterianos William Linn (1752-1808)7 e David Austin (1760-1831)8 e
Robert Shimeall9, aplicaram ao número 666 os títulos Ludovicus (latim), Lateinos
(grego), Romith (hebraico) e vicarius Filii Dei. Referente a esse último, John Bayford,
em sua obra Messiah’s Kingdom (ca. 1820), afirmou que sua utilização era
“dificilmente satisfatória” e que a expressão correta ainda estava para ser
descoberta10. Percebe-se assim, que desde o século 19, já havia certa relutância em
aplicar esse título ao número 666.

3. VICARIUS FILII DEI EM AUTORES ADVENTISTAS
Muitos dos pioneiros do movimento adventista foram contemporâneos dos autores
protestantes mencionados anteriormente. Sendo assim, é natural encontrarmos
semelhança entre as interpretações de Apocalipse 13:18 de ambos os grupos. Foi por
meio dos trabalhos de Uriah Smith, decano da interpretação profética nos círculos
adventistas11, que se atribuiu a expressão vicarius Filii Dei ao papado. Smith assim
entendia: a expressão mais plausível que temos visto sugerir contendo o número da
besta é o título que o papa toma para si mesmo e permite que outros lhe apliquem.
Esse título é Vicarius Filii Dei, que quer dizer “Substituto do Filho de Deus”. Tomando
as letras deste título que os latinos usavam como numerais e dando lhes o seu valor
numérico, temos exatamente 666.12
A interpretação de Smith causou um impacto significativo no adventismo, a ponto de
John N. Andrews, o expoente teológico mais importante dessa denominação, adotá-la
na reimpressão de sua obra The three angels of Revelation XIV, 6-12, em 1877. Os anos
posteriores presenciaram uma expansão dessa visão, por meio dos trabalhos públicos
e impressos de alguns evangelistas adventistas ao redor do mundo. Stephen. N.
Haskell, por exemplo, ao tratar do tema de Apocalipse 13, enfatizou apenas vicarius
Filii Dei13.
O mesmo foi feito pelo autor brasileiro Aracely Mello ao afirmar que existem “fatos
comprobatórios de que Vicarius Filii Dei é o título verdadeiro do Papa e de Roma
Papal.”14 Roy Alan Anderson, importante nome no evangelismo adventista, utilizou
títulos como stur (aramaico), italika ekklesia, he latine Basiléia (grego) e vicarius Filii
Dei (latim)15 Por sua vez, o evangelista argentino Daniel Belvedere limitou a
interpretação do número 666 a expressão “substituto do Filho de Deus”16e C. Mervyn
Maxwell adotou essa mesma posição17.
Este quem sabe seja o principal motivo para o título vicarius Filii Dei ser associado com
Apocalipse 13:18 por tantos adventistas. Porém, por mais popular que seja essa
interpretação, é inegável que existem inúmeros problemas na sua aplicação ao relato
bíblico.

4. PROBLEMAS INTERPRETATIVOS
Como vimos anteriormente, o documento mais antigo a mencionar esse título é a
Doação de Constantino. A implicação disto é que essa interpretação se baseia numa
falso decreto da Idade Média. Da mesma forma, há certa controvérsia envolvendo a
inscrição de vicarius Filii Dei na mitra papal.
A publicação Our Sunday Visitor, uma popular revista católica americana, mencionou
por duas ocasiões que havia, de fato, uma inscrição na tiara do papa. A primeira
menção foi em 1914, e a segunda no ano seguinte. Porém, existe uma terceira citação
que nega qualquer tipo de inscrição na coroa do pontífice romano. E não há qualquer
tipo de evidência que prove o contrário18
Provavelmente, esse assunto teve início com um incidente envolvendo W. W. Prescott,
um dos pioneiros da segunda geração adventista. Um evangelista chamado C. T.
Everson visitou o Museu do Vaticano e tirou algumas fotografias de diversas tiaras
papais, usadas ao longo dos séculos. Nenhuma inscrição havia em sequer uma delas.
Prescott foi autorizado para utilizar as fotos na ilustração de um dos seus artigos.
Porém, a Southern Publishing Association, quando preparava a publicação da versão
atualizada da obra de Smith, contratou um artista que inseriu as palavras vicarius Filii
Dei. A sede mundial da IASD ordenou que a impressão fosse interrompida e que
removessem as fraudes fotográficas19.
Em 1935, a revista Our Sunday Visitor desafiou o períodico adventista Present Truth,
que nessa época tinha como editor Francis D. Nichol, a provar que a expressão
“substituto do Filho de Deus” era um título oficial do papa. Nichol consultou a Prescott
para solucionar esse problema. Prescott afirmou que não era possível responder ao
desafio, já que os adventistas baseavam essas argumentações em fontes
questionáveis.20 Devido esse incidente, a sede mundial da IASD sugeriu que tal
interpretação jamais fosse utilizada novamente21.
Ironicamente, hoje está é a interpretação mais popular entre os adventistas.
Em novembro de 1948, Leroy E. Froom publicou sua resposta para uma pergunta
referente a inscrição na tiara do papa. Após negar qualquer tipo de grafia na mitra
papal, Froom afirmou que “como arautos da verdade, devemos proclamá-la
verdadeiramente”, e que “em nome da verdade e honestidade este periódico protesta
contra algum membro da associação ministerial da denominação adventista do sétimo
dia”. Segundo ele, “a verdade não necessita de um fabricação para ajudá-la”22
Além desses problemas, é necessário dizermos que esse recurso é exegeticamente
desnecessário. O pregador escocês Robert Fleming Jr. (ca. 1600-1716), por exemplo,
jamais utilizou vicarius Filii Dei na suas abordagens sobre o anticristo e chegou à
mesma posição dos adventistas à respeito desse poder, isto é, o catolicismo apostólico
romano23.

CONCLUSÃO
É evidente, portanto, que o uso da expressão vicarius Filii Dei aplicado ao número 666
de Apocalipse 13:18 é controvertida e questionável. Visto que sua origem está ligada a
um documento forjado. Como declarou Froom, nesse assunto, “nós devemos honrar a
verdade e meticulosamente observar o princípio da honestidade ao lidar com as
evidências sobre todas as circunstâncias”24.
1 Esse artigo é parte de uma pesquisa em desenvolvimento sobre a história da
interpretação do número apocalíptico 666 na história do cristianismo.
1 Bettenson, H. Documentos da igreja cristã, São Paulo, ASTE, 1998, 171.
3 Coleman, Christopher B. The Treatise of Lorenzo Valla on the Donation of
Constantine, Canada: University of Toronto Press, 1993, 1 e 2. Essa obra foi
originalmente publicada em 1922.
4 Cairns, Earle E. O cristianismo através dos séculos, São Paulo, Vida Nova, 2006, 213.
5 Froom, Leroy E. The Prophetic Faith of Our Fathers, Washington, D.C.: Review and
Herald Publishing Association, 1954, vol. 2, 605-608.
6 O título da obra “A syllabus of lectures on the visions of the Revelation”
7 O título de seu trabalho é “Discourses on signs of the times”
8 O título de sua obra é “A prophetic leaf”, citada em Froom, op. cit., 342 .
9 Damsteegt, P. Gerard. Foundations of the Seventh-day Adventist Message and
Mission, Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1997, 206.
10 Froom, op. cit., 412.
11 Timm, Alberto R. O santuário e as três mensagens angélicas: fatores integrativos no
desenvolvimento das doutrinas adventistas. Engenheiro Coelho, SP: Imprensa
Universitária Adventista, 2004, 137-138.
12Nichol, Francis D. (ed.). Seventh-day Adventist Biblical Commentary. Hangesrtown,
MD: Review and Herald Publishing Association, 1980, vol. 10, 1009.
13 Haskell, Stephen. N. The Story of the Seer of Patmos. Nashville, TN: Southern
Publishing Association, 1905. p. 105.
14 Mello, Aracely S. A verdade sobre as profecias do Apocalipse. Taquara, RS: Grafiacs,
1982. 202-203.
15 Anderson, Roy A. As Revelações do Apocalipse. Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 1988. 151.
16 Belvedere, Daniel. Seminário revelações do Apocalipse. Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 1987, 102.
17 C. Mervyn Maxwell. Uma nova era segundo as profecias do Apocalipse. Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 1998. 431.
18 Nichol, Francis D. ed. op. cit., vol. 9. 1071.
19 Valentine, Gilbert. W.W. Prescott : Forgotten Giant of Adventism's Second
Generation. Washington
D.C.: Review and Herald Pub. Association, 2005. 317.
20 Ibid., 318.
21 Ibid., 319.
22 Froom, Leroy E. “Dubious Pictures of the Tiara”, The Ministry, novembro de 1948,
35.
23 Torres, Milton Luiz. “Contenções Quanto à Interpretação Tradicional de 666 em
Apocalipse 13:18”.
Revista teológica SALT-IAENE, Cachoeira, BA, v. 2, n. 1, 1998. 64.
24 Froom.“Dubious Pictures of the Tiara”, 35.

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666 vicarius filii dei

  • 1. VICARIUS FILII DEI: SUA ORIGEM E USO NA IASD VICARIUS FILII DEI: SUA ORIGEM E USO NA IASD COMO INTERPRETAÇÃO DE APOCALIPSE 13:181 Luiz Gustavo S. Assis Resumo: Nesse artigo faço uma busca histórica da origem e do uso da expressão vicarius Filii Dei como interpretação de Apocalipse 13:18 nos círculos adventistas. Após esse background histórico, discorrerei brevemente sobre o uso desse título no meio adventista, bem como sobre da validade hermenêutica do mesmo para a interpretação do número 666. A interpretação mais popular no meio adventista para o número 666, citado em Apocalipse 13:18, é a utilização do suposto título papal vicarius Filii Dei. Entre as muitas questões a serem levantadas a partir desse assunto, o que nos interessa nesse artigo é a confiabilidade histórica dessa expressão e a validade de seu uso nos círculos adventistas. 1. ORIGEM DO TÍTULO O documento Doação de Constantino é a mais antiga referência do suposto título papal vicarius Filii Dei. Tendo sido escrito no período da Idade Média, esse é o mais antigo relato eclesiástico que confere a Pedro a autoridade de ser “substituto do Filho de Deus”2. Por quase 600 anos, o catolicismo o considerou como genuíno, mesmo porque aproximadamente dez papas o utilizaram como prova de sua autoridade temporal3. A menção do nome Constantino sugere que esse documento deve ter sido escrito nos dias desse imperador, no século 4 A.D. Porém, Lorenzo Valla, por algum tempo secretário do papa humanista Nicolau V, em 1440 escreveu uma crítica literária e histórica demonstrando que a Doação de Constatino era um documento forjado, que provavelmente foi composto em meados do século 9 A.D.4. 2. VICARIUS FILII DEI EM AUTORES PROTESTANTES O escritor protestante mais antigo a relacionar o a expressão vicarius Filii Dei ao número 666 foi o alemão Andreas Helwig (ca. 1572-1643). Esse erudito foi professor de línguas bíblicas e letras clássicas por quase três décadas. Em 1612, Helwig escreveu sua obra Antichristus Romanus, na qual reuniu 15 títulos nas línguas latina, grega e hebraica, que na soma de suas letras, dariam a cifra apocalíptica. Tal obra não enfatizou o título vicarius Filii Dei, mas o considerou apenas como mais uma das pretensões da Igreja de Roma. Segundo Helwig, quatro fatores eram essenciais para um nome ser aplicado ao número apocalíptico: (1) a soma deveria dar a cifra correta; (2) teria que concordar com a ordem papal; (3) deveria ser um nome do próprio anticristo, não um título dado por seus inimigos; (4) teria que ser um título usado pelo o anticristo para a sua auto- ostentação. Porém, essa interpretação se tornou comum entre autores de diversas denominações em meados da Revolução Francesa (1789-1799), quase duzentos anos após a publicação de sua obra5. Autores protestantes como Amzi Armstrong (1771- 1827)6, os presbiterianos William Linn (1752-1808)7 e David Austin (1760-1831)8 e Robert Shimeall9, aplicaram ao número 666 os títulos Ludovicus (latim), Lateinos (grego), Romith (hebraico) e vicarius Filii Dei. Referente a esse último, John Bayford,
  • 2. em sua obra Messiah’s Kingdom (ca. 1820), afirmou que sua utilização era “dificilmente satisfatória” e que a expressão correta ainda estava para ser descoberta10. Percebe-se assim, que desde o século 19, já havia certa relutância em aplicar esse título ao número 666. 3. VICARIUS FILII DEI EM AUTORES ADVENTISTAS Muitos dos pioneiros do movimento adventista foram contemporâneos dos autores protestantes mencionados anteriormente. Sendo assim, é natural encontrarmos semelhança entre as interpretações de Apocalipse 13:18 de ambos os grupos. Foi por meio dos trabalhos de Uriah Smith, decano da interpretação profética nos círculos adventistas11, que se atribuiu a expressão vicarius Filii Dei ao papado. Smith assim entendia: a expressão mais plausível que temos visto sugerir contendo o número da besta é o título que o papa toma para si mesmo e permite que outros lhe apliquem. Esse título é Vicarius Filii Dei, que quer dizer “Substituto do Filho de Deus”. Tomando as letras deste título que os latinos usavam como numerais e dando lhes o seu valor numérico, temos exatamente 666.12 A interpretação de Smith causou um impacto significativo no adventismo, a ponto de John N. Andrews, o expoente teológico mais importante dessa denominação, adotá-la na reimpressão de sua obra The three angels of Revelation XIV, 6-12, em 1877. Os anos posteriores presenciaram uma expansão dessa visão, por meio dos trabalhos públicos e impressos de alguns evangelistas adventistas ao redor do mundo. Stephen. N. Haskell, por exemplo, ao tratar do tema de Apocalipse 13, enfatizou apenas vicarius Filii Dei13. O mesmo foi feito pelo autor brasileiro Aracely Mello ao afirmar que existem “fatos comprobatórios de que Vicarius Filii Dei é o título verdadeiro do Papa e de Roma Papal.”14 Roy Alan Anderson, importante nome no evangelismo adventista, utilizou títulos como stur (aramaico), italika ekklesia, he latine Basiléia (grego) e vicarius Filii Dei (latim)15 Por sua vez, o evangelista argentino Daniel Belvedere limitou a interpretação do número 666 a expressão “substituto do Filho de Deus”16e C. Mervyn Maxwell adotou essa mesma posição17. Este quem sabe seja o principal motivo para o título vicarius Filii Dei ser associado com Apocalipse 13:18 por tantos adventistas. Porém, por mais popular que seja essa interpretação, é inegável que existem inúmeros problemas na sua aplicação ao relato bíblico. 4. PROBLEMAS INTERPRETATIVOS Como vimos anteriormente, o documento mais antigo a mencionar esse título é a Doação de Constantino. A implicação disto é que essa interpretação se baseia numa falso decreto da Idade Média. Da mesma forma, há certa controvérsia envolvendo a inscrição de vicarius Filii Dei na mitra papal. A publicação Our Sunday Visitor, uma popular revista católica americana, mencionou por duas ocasiões que havia, de fato, uma inscrição na tiara do papa. A primeira menção foi em 1914, e a segunda no ano seguinte. Porém, existe uma terceira citação que nega qualquer tipo de inscrição na coroa do pontífice romano. E não há qualquer tipo de evidência que prove o contrário18 Provavelmente, esse assunto teve início com um incidente envolvendo W. W. Prescott,
  • 3. um dos pioneiros da segunda geração adventista. Um evangelista chamado C. T. Everson visitou o Museu do Vaticano e tirou algumas fotografias de diversas tiaras papais, usadas ao longo dos séculos. Nenhuma inscrição havia em sequer uma delas. Prescott foi autorizado para utilizar as fotos na ilustração de um dos seus artigos. Porém, a Southern Publishing Association, quando preparava a publicação da versão atualizada da obra de Smith, contratou um artista que inseriu as palavras vicarius Filii Dei. A sede mundial da IASD ordenou que a impressão fosse interrompida e que removessem as fraudes fotográficas19. Em 1935, a revista Our Sunday Visitor desafiou o períodico adventista Present Truth, que nessa época tinha como editor Francis D. Nichol, a provar que a expressão “substituto do Filho de Deus” era um título oficial do papa. Nichol consultou a Prescott para solucionar esse problema. Prescott afirmou que não era possível responder ao desafio, já que os adventistas baseavam essas argumentações em fontes questionáveis.20 Devido esse incidente, a sede mundial da IASD sugeriu que tal interpretação jamais fosse utilizada novamente21. Ironicamente, hoje está é a interpretação mais popular entre os adventistas. Em novembro de 1948, Leroy E. Froom publicou sua resposta para uma pergunta referente a inscrição na tiara do papa. Após negar qualquer tipo de grafia na mitra papal, Froom afirmou que “como arautos da verdade, devemos proclamá-la verdadeiramente”, e que “em nome da verdade e honestidade este periódico protesta contra algum membro da associação ministerial da denominação adventista do sétimo dia”. Segundo ele, “a verdade não necessita de um fabricação para ajudá-la”22 Além desses problemas, é necessário dizermos que esse recurso é exegeticamente desnecessário. O pregador escocês Robert Fleming Jr. (ca. 1600-1716), por exemplo, jamais utilizou vicarius Filii Dei na suas abordagens sobre o anticristo e chegou à mesma posição dos adventistas à respeito desse poder, isto é, o catolicismo apostólico romano23. CONCLUSÃO É evidente, portanto, que o uso da expressão vicarius Filii Dei aplicado ao número 666 de Apocalipse 13:18 é controvertida e questionável. Visto que sua origem está ligada a um documento forjado. Como declarou Froom, nesse assunto, “nós devemos honrar a verdade e meticulosamente observar o princípio da honestidade ao lidar com as evidências sobre todas as circunstâncias”24. 1 Esse artigo é parte de uma pesquisa em desenvolvimento sobre a história da interpretação do número apocalíptico 666 na história do cristianismo. 1 Bettenson, H. Documentos da igreja cristã, São Paulo, ASTE, 1998, 171. 3 Coleman, Christopher B. The Treatise of Lorenzo Valla on the Donation of Constantine, Canada: University of Toronto Press, 1993, 1 e 2. Essa obra foi originalmente publicada em 1922. 4 Cairns, Earle E. O cristianismo através dos séculos, São Paulo, Vida Nova, 2006, 213. 5 Froom, Leroy E. The Prophetic Faith of Our Fathers, Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1954, vol. 2, 605-608. 6 O título da obra “A syllabus of lectures on the visions of the Revelation” 7 O título de seu trabalho é “Discourses on signs of the times” 8 O título de sua obra é “A prophetic leaf”, citada em Froom, op. cit., 342 .
  • 4. 9 Damsteegt, P. Gerard. Foundations of the Seventh-day Adventist Message and Mission, Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1997, 206. 10 Froom, op. cit., 412. 11 Timm, Alberto R. O santuário e as três mensagens angélicas: fatores integrativos no desenvolvimento das doutrinas adventistas. Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 2004, 137-138. 12Nichol, Francis D. (ed.). Seventh-day Adventist Biblical Commentary. Hangesrtown, MD: Review and Herald Publishing Association, 1980, vol. 10, 1009. 13 Haskell, Stephen. N. The Story of the Seer of Patmos. Nashville, TN: Southern Publishing Association, 1905. p. 105. 14 Mello, Aracely S. A verdade sobre as profecias do Apocalipse. Taquara, RS: Grafiacs, 1982. 202-203. 15 Anderson, Roy A. As Revelações do Apocalipse. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988. 151. 16 Belvedere, Daniel. Seminário revelações do Apocalipse. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1987, 102. 17 C. Mervyn Maxwell. Uma nova era segundo as profecias do Apocalipse. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1998. 431. 18 Nichol, Francis D. ed. op. cit., vol. 9. 1071. 19 Valentine, Gilbert. W.W. Prescott : Forgotten Giant of Adventism's Second Generation. Washington D.C.: Review and Herald Pub. Association, 2005. 317. 20 Ibid., 318. 21 Ibid., 319. 22 Froom, Leroy E. “Dubious Pictures of the Tiara”, The Ministry, novembro de 1948, 35. 23 Torres, Milton Luiz. “Contenções Quanto à Interpretação Tradicional de 666 em Apocalipse 13:18”. Revista teológica SALT-IAENE, Cachoeira, BA, v. 2, n. 1, 1998. 64. 24 Froom.“Dubious Pictures of the Tiara”, 35.