Há cerca de um ano, estava a preparar material para o livro A Viagem Iniciática de Hipátia, quando me deparei com um facto surpreendente: a relação aritmética entre o Número de Ouro (Fi) e o Monograma de Cristo – também designado como Crismão -, símbolo que o representa, desde os primeiros séculos do Cristianismo até aos dias de hoje.

Fiquei impressionado com as implicações históricas e teológicas desta descoberta. Fui imediatamente verificar na Internet se alguém já tinha encontrado esta relação. Procurei em português, espanhol e inglês e comprovei, estupefacto, que ninguém, jamais, tinha feito referência a este vínculo de tão grande importância, que pode, segundo penso sinceramente, fazer reescrever os livros de História.
Deve parecer muito pretensioso ao leitor, a mim também me parecia, mas peço-lhe que tenha paciência e que, juntos, desvelemos o enigma.

Comecemos por recordar que o Número de Ouro, Divina Proporção ou Secção Dourada é um dos segredos da arte e matemática antiga, que tanto Euclides como Platão fizeram referência. Mas eles nunca especificaram como encontrar este Número que rege a Natureza, e desde onde podemos saber, a Arte Antiga (Egipto, Grécia, Roma, China, Índia, etc, etc.), para além de ser a chave que permite a construção do pentágono estrelado, um dos grandes segredos das confrarias pitagóricas. Este Número indica a proporção que existe entre duas magnitudes para que a menor seja a maior como esta é para a soma das duas. Comprova-se facilmente – agora, mas nem por isso na Grécia antiga, em que fora dos templos, não se dispunha das “ferramentas” matemáticas adequadas – que este número corresponde à solução da seguinte equação algébrica:

que cumpre a impressionante propriedade de x= 1 + 1/x, com o valor de

1,618033988749…., um número que já Euclides, sem o mencionar, demonstrou que era irracional, ou seja, com infinitos números decimais (dizima infinita não periódica), que não pode ser expresso através de uma fracção de números inteiros. Como fracção contínua é expressa do seguinte modo:

A famosa série de Fibonacci 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34…. em que cada número é a soma dos dois anteriores, converge ao infinito no Número de Ouro e rege toda a Natureza, irmanando de certo modo, as progressões aritméticas e geométricas.

O leitor pode ler na Internet as maravilhas desta proporção que é, juntamente como o Pi, o número mais sagrado da Antiguidade. Este último, o Pi (Π) é a relação entre a circunferência e o seu diâmetro, simboliza o processo de nascimento, de gestação, o poder criador que dá origem ao Cosmos. Enquanto que o Fi, ou seja, Φ, é o Poder que o estrutura, relacionando harmonicamente as partes com o todo. Tudo quanto existe está dividido em harmónicas e é parte, ao mesmo tempo, de um todo harmónico. Este número relaciona, assim, o infinitamente grande com o infinitamente pequeno numa série harmónica também infinita, mas regida por esta Divina Proporção: Razão que nas nossas aulas na Nova Acrópole, explicamos que é a ideal e governa geometricamente toda a Natureza.

Φ é, portanto, o LOGOS, a Palavra ou Inteligência, o Arquitecto Divino que dá forma a tudo quanto existe, ajustando sempre o múltiplo à unidade.

A verdade é que já conhecíamos a importância deste Número na civilização greco-romana, mas não que, nesta, tivesse chegado a ser considerado o Verbo, o Logos platónico, a Deidade que é Pura Vontade, Amor-Sabedoria e Inteligência que se converte em Lei, Energia e Vida, e nas Formas que regem a Natureza na sua plenitude. Mas o surpreendente é que Φ é o Verbo, o Verbo (Logos) do Evangelho gnóstico de S. João, que começa, precisamente com estas palavras:

No princípio era o Verbo (Logos), e o Verbo (Logos) estava com Deus e era Deus.

Pois quando os filósofos cristãos cultos rendiam culto a Cristo, faziam-no a este Logos encarnado em carne e sangue (ou seja, na natureza e no coração humanos, da Humanidade inteira e desde que esta nasceu como tal, há dezoito milhões de anos, segundo as doutrinas herméticas). E ainda que já o soubéssemos por alguns Padres da Igreja como S. Jerónimo, a prova definitiva é esta:

O Monograma de Cristo decompõe-se lógica e naturalmente nas seguin-tes letras do alfabeto grego:

(ALFA)  A    (XI) Χ    (RO) Ρ    (OMEGA) ω

Como na matemática grega antiga não existiam ainda os nossos números ou algarismos, as letras eram também números com a seguinte correlação:

Recordamos o alfabeto grego, com as maiúsculas e minúsculas:

Dando o valor numérico, portanto, às letras, temos:

A  = 1
X  =  600
P  =  100
W =  800

Números que lidos, como estão no Monograma de Cristo e sem considerar os zeros, que não se lêem, são:

AXRO =   1618 

Que são os quatro primeiros números da DIVINA PROPORÇÃO!!!
E o símbolo do Crismão é mais antigo que o uso que dele começaram a fazer os cristãos convertendo-o em Monograma de Cristo (KR, de Cristo, que é o Alfa e Ómega; o S e o T que aparece em alguns Monogramas medievais foram incorporados vários séculos depois), era um símbolo da Religião romana dos Césares, um símbolo extremamente sagrado, usado, por exemplo, em algumas moedas, tal como nos diz na sua Simbologia Românica: El cristianismo y otras religiones en el Arte Románico o sacerdote e doutor em Filologia Clássica e Teologia Patrística Manuel Guerra, que dedica ao Monograma de Cristo um capítulo inteiro nesta obra.

Claro! Φ, e já sabemos agora que também o Monograma de Cristo, era o símbolo do Deus Criador, do Logos que dá forma e vivifica a matéria: o Espírito Universal, filho do Mistério Inominado, Espírito Universal cuja presença é fácil perceber na ordem e harmonia da natureza, desde o imenso ao mínimo, da sua  geometria fractal até aos seus programas evolutivos (1). Quando Cristo, de homem se converteu em Logos encarnado, foi necessário representá-lo com este símbolo geométrico e numérico do Logos, o Crismão, o Número de Ouro, o 1618, a Anima Mundi que está junto de Deus, e que é Deus, Alfa e Ómega, Princípio e Fim deste Universo, portanto, de tudo quanto n’Ele nasce, vive e morre.

José Carlos Fernández

Director da Nova Acrópole Portugal

Notas:

(1) Recordando sempre, como dizem os cientistas e filósofos, que a ontogénese reproduz a filogénese.