Por Itana Alencar, g1 BA


Interdição de rua para obra na Igreja de São Francisco causa evasão de clientes no Pelourinho — Foto: Itana Alencar/g1

Evasão de clientes, estacionamentos zerados e via deserta: esses são os principais prejuízos enfrentados por comerciantes do Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador, desde que a Rua de São Francisco foi interditada para uma restauração da Igreja de São Francisco – uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo.

O fechamento foi feito no dia 20 de junho, sem aviso prévio aos empresários, para a restauração do pináculo direito do templo católico. O tráfego foi suspenso para pedestres e motoristas na via que é o principal acesso para restaurantes, lojas e acomodações que ficam no mesmo caminho.

Enquanto os empreendedores sofrem com a queda no faturamento e a falta de resposta dos órgãos responsáveis, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) segue sem dar previsão de conclusão a obra – que ainda nem foi iniciada.

Nesta reportagem, o g1 vai explicar em 6 pontos:

O que é o pináculo e por que ele oferece riscos?

Pináculo direito da igreja (localizado no lado esquerdo da foto) corre risco de desabar — Foto: Itana Alencar/g1

O pináculo é a cúpula de ferro que fica no topo da Igreja de São Francisco. Apesar de parecer pequena na fotografia acima, a estrutura pesa cerca de uma tonelada e meia. A material está envergado e oferece riscos de queda. Com essas informações, ficam evidentes os riscos que o pináculo oferece.

A queda desta cúpula pode destruir não somente a estrutura do imóvel da igreja, como cair em um pátio interno que é aberto para visitações, ou ainda cair na rua, destruir automóveis e ferir pessoas – inclusive levando à morte – por causa do impacto provocado pela altura e peso.

Onde e por quem foi feita a interdição?

Interdição de rua para obra na Igreja de São Francisco causa evasão de clientes no Pelourinho — Foto: Itana Alencar/g1

A interdição foi feita na Rua de São Francisco, em toda a área de contorno da torre. Além disso, também foram instalados tapumes na parte interna do pátio da igreja, para impedir a aproximação de visitantes do local em que o pináculo pode cair.

Do lado de fora, a interdição foi feita pela Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador), a pedido do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Dentro, a barreira foi instalada pelo próprio órgão federal.

Interdição de rua para obra na Igreja de São Francisco causa evasão de clientes no Pelourinho — Foto: Itana Alencar/g1

Por que o comércio está prejudicado?

O comércio está prejudicado porque a interdição impede o acesso principal à Rua de São Francisco. Sem a passagem, lojas, restaurantes e acomodações que ficam na via e na Rua Inácio Acciole, que complementa o caminho, tiveram queda drástica no faturamento.

Um dos estabelecimentos prejudicados é o restaurante Maria Mata Mouro, que perdeu cerca de 70% da clientela. A gerente do local, Quelli Rodrigues, explica que a queda acentuado reflete diretamente no faturamento do negócio.

"É um número bem expressivo, porque os clientes geralmente vêm do Largo do Terreiro de Jesus. Para ter acesso aqui, precisando arrodear, eles ficam com medo, acham que têm que andar muito. Além disso, não tem nenhuma sinalização informativa".

Quelli Rodrigues, gerente do restaurante Maria Mata Mouro — Foto: Itana Alencar/g1

Para se ter uma ideia, o percurso que era feito da entrada da igreja, em direção ao restaurante gerido por Quelli, normalmente é de 60 metros. Com a mudança, o atual percurso é de mais de 300 metro, partido do Largo do Cruzeiro de São Francisco e virando à direita na Rua Gregório de Matos.

Depois é preciso virar novamente à direita na Rua das Laranjeiras, e mais uma vez à direita na Santa Isabel e então seguir à direita na Rua 12 de Outubro, também conhecida como Ladeira da Ordem 3ª de São Francisco. Aí finaliza o caminho tomando novamente a direita, no início da Rua Inácio Acciole.

Entenda interdição em região do Pelourinho, em Salvador, a partir de mapa — Foto: Itana Alencar/g1

Qual o impacto da evasão de clientes?

O impacto é grande, especialmente nos meses de julho e agosto, que é quando os comerciantes recebem turistas das regiões sudeste e sul do Brasil, e também dos continentes norte-americano e europeu, todos em férias.

São esses turistas que geram boa parte do dinheiro que mantém estabelecimentos como o Hostel Laranjeiras nos períodos de baixa estação, como explica Claudio Alban, o proprietário da acomodação.

Interdição de rua para obra na Igreja de São Francisco causa evasão de clientes no Pelourinho — Foto: Itana Alencar/g1

“Esse período a gente tem um fluxo muito grande de turistas estrangeiros. Para eles chegarem até aqui é mais difícil, porque não conseguem se comunicar direito com os motoristas. Perdemos todo o fluxo da mobilidade. Com o fechamento, nós perdemos 60% da clientela. Hoje, por exemplo, eu fiz devolução de metade de uma reserva, porque a pessoa não conseguiu chegar aqui".

Por insistência dos comerciantes, a Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador) abriu o trânsito na Avenida J.J. Seabra em duplo sentido, para que haja um novo acesso à região. No entanto, a sinalização só foi colocada no local, para indicar aos motoristas que podem subir a via, nesta quinta-feira (27), mais de um mês após o fechamento da Rua de São Francisco.

Claudio Alban, o proprietário do Hostel Larajeiras, no Pelourinho, em Salvador — Foto: Itana Alencar/g1

Outros negócios, como os estacionamentos Delta Parking, viram a clientela zerar completamente com o fechamento da rua. O supervisor operacional Danilo Sousa, que tem dois pátios na região, está com um deles totalmente zerado e o outro sendo usado apenas por poucos mensalistas, que são os próprios comerciantes.

"Com a rua fechada, nenhum carro desce para acessar o estacionamento. A perda de faturamento é de 100% para a gente. Não temos nenhum movimento, porque nenhum carro, nenhum veículo chega. Não tivemos nenhum aviso prévio, e ainda temos um custo adicional porque tivemos que colocar um funcionário na J.J. Seabra sinalizando que pode subir no que era contramão".

Interdição de rua para obra na Igreja de São Francisco causa evasão de clientes no Pelourinho — Foto: Itana Alencar/g1

Como as ruas ao redor foram afetadas?

A já citada Avenida J.J. Seabra precisou ter p trânsito convertido para mão dupla. A Ladeira da Ordem 3ª de São Francisco, também conhecida como Rua 12 de Outubro, ficou praticamente deserta. Sem movimentação, o assalto na ladeira se tornou frequente, assim como o uso de drogas na via pública.

O que dizem os órgãos responsáveis?

Desde que comunicou a interdição, a igreja não tem se pronunciado sobre a situação. A Transalvador informou que fez a suspensão do tráfego na via a pedido do Iphan. O Iphan, por sua vez, informou que a obra do pináculo está em processo de licitação de empresa, para que o restauro possa ser concluído e a via liberada.

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