Por G1 BA


Baianas do acarajé no Centro Histórico de Salvador — Foto: Max Haack/Coperphoto/AE

Um dos maiores símbolos da Bahia e patrimônio imaterial reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as baianas de acarajé ganharam uma campanha de valorização, lançada na segunda-feira (17). De acordo com a Associação das Baianas de Acarajé, o cerca de 3.500 baianas atuam em Salvador.

Intitulada "Valorize a baiana do acarajé, valorize o Patrimônio Cultural do Brasil", a campanha traz peças que estão sendo reproduzidas no telão do aeroporto de Salvador, nos ônibus, nos elevadores de hotéis, em restaurantes, bares, jornais impressos e comerciais de televisão em todo estado.

"Essa ação é para que as pessoas entendam a importância que a baiana tem, a partir do momento em que a gente mostra que o acarajé não é uma comida comum, que é um símbolo identitário do país. Não é um alimento qualquer, tem toda uma simbologia. Ele vem do terreiro, é comida do orixá", disse Hermano Queiroz, Diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI/Iphan).

Queiroz ressaltou ainda que os rituais, desde a preparação da comida até a arrumação do tabuleiro para a venda do acarajé, são símbolos sagrados e fazem parte da cultura de um povo.

"Não é o acarajé em si, mas o modo de fazer, o ofício, as baianas. Se nós valorizamos as pessoas que fazem, esse bem nunca deixará de existir. [Baiana de acarajé] Foi uma das primeiras profissões de mulheres no país. Existe um conjunto de elemento no modo tradicional de fazer o acarajé. Ele contém uma história. É um signo identitário do Brasil, porque traz a história de grupos culturais que contribuíram para a nossa história", concluiu Queiroz.

A iniciativa da campanha foi motivada pela Associação das Baianas, que relatou ao Iphan sobre as interferências que afetavam a identidade do bem cultural e a essência da prática tradicional de produção e venda. Entre as observações feitas pelas baianas estavam a produção do bolinho em larga escala realizada por fábricas, a ausência das vestimentas tradicionais e a mudança no nome africano da comida oferecida aos orixás.

Acarajé no Brasil

Acarajé é comida sagrada e ritual, ofertada aos orixás — Foto: Max Haack/Ag Haack

A preparação do àkàrà je, que significa comer bola de fogo na língua Iorubá, desembarcou no Brasil junto com os escravos oriundos do Golfo do Benim, na África Ocidental. No universo do candomblé, o acarajé é comida sagrada e ritual, ofertada aos orixás, sendo uma das razões pela qual a receita do acarajé se mantém sem muitas alterações.

Transmitida oralmente ao longo dos séculos por sucessivas gerações, o acarajé - bolinho de feijão fradinho frito no azeite de dendê - era comercializado no período colonial pelas escravas de ganho ou negras libertas, proporcionando a elas a sobrevivência após a abolição da escravatura. Séculos depois, o ofício ganhou o Dia Nacional da Baiana do Acarajé, comemorado em 25 de novembro e, desde 2017, a profissão foi incluída na lista de Classificação Brasileira de Ocupações.

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